PARA A TURMA E-1101 - PEDRO ADAMI - AGOSTO 2011


VAMOS REFLETIR UM POUCO SOBRE  A ARTE DE ESCREVER E SOBRE O PRAZER DA LEITURA

“Nenhuma semente acorda árvore no dia seguinte. A boa notícia é que hoje é apenas o primeiro dia do resto de nossas vidas. Hoje pode ser o dia em que uma criança descobre o gosto pela leitura, e isso afetará positivamente  o amanhã de todos.”  (Instituto Ecofuturo)


“Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo”.
(Clarice Lispector)

“Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento  do futuro...” (Rubem Alves)

“Uma das mais remotas experiências  poéticas que me ocorre é a de uma composição  escolar no terceiro ano primário, que eu terminava assim: “Olhai os lírios do campo. Nem Salomão, com toda sua glória, se vestiu como um deles...”. A professora tinha lido este evangelho na hora do catecismo e fiquei atingida na minha alma pela sua beleza. Na primeira oportunidade aproveitei a sentença na composição, que foi muito aplaudida, para minha felicidade suplementar.”  (Adélia Prado)

“Moça feita, li Drummond a primeira vez em prosa. Muitos anos mais tarde, Guimarães Rosa, Clarice. Esta é minha turma, pensei. Gostam do que eu gosto. Minha felicidade foi imensa. Continuava a escrever, mas enfadara-me do meu próprio tom, haurido de fontes que não a minha. Até que um dia, propriamente após a morte do meu pai, começo a escrever torrencialmente e percebo uma fala minha, diversa da dos autores que amava. É isto, é a minha fala.”  (Adélia Prado)



“...Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda...”  (Cecília Meireles)

“Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido”.  (Jules Renard)

“Devemos escrever para nós mesmos, é assim que poderemos chegar aos outros.”  (Eugene Ionesco)

“Escrever é também não falar. É calar-se.  É gritar sem ruído.” (Marguerite Duras)

“É escrevendo mal que se aprende a escrever bem.”  (Samuel Johnson)

“Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que “baixa” no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar  introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas – o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente.” (Moacyr Scliar)

“Há ontens e amanhãs, mas não há hojes.... De vez  em quando é bom ser consciente de que hoje, de que agora estamos fabricando as nostalgias que descongelarão em algum futuro.” (Mario Benedetti)

Sobre gramática, ortografia e pontuação....

“Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou com a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria sua patroa!  Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção de lexicógrafos, etimologistas e colegas! Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda.”  (Luís Fernando Veríssimo)

OBS.: Não que a gramática não seja importante – longe disso! Só que ela não deve funcionar como uma gaiola ou prisão. A língua é viva, e coisa viva respira e muda.

Lavar o texto e pendurar para secar

“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.” (Graciliano Ramos)

“Encontre para mim talentos escondidos, apaixonados, adolescentes que, em lugar de se prepararem para os exames oficiais, explorem sem cessar um pedaço ou um mecanismo do mundo. Tudo, menos gente preguiçosa. Eu quero gente trabalhadora, mas gente trabalhadora que só agüente a liberdade.” (Erik Orsenna)

“Escola é o lugar onde se fazem amigos, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos... Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de ‘ilha cercada de gente por todos os lados’”.  (Paulo Freire)


DIFERENÇA E DESIGUALDADE

“Diferença e desigualdade não são sinônimos. É preciso respeitar as diferenças e acabar com a desigualdade.”

Texto de Ricardo Paes de Barros

            O Brasil  não é um país pobre. De cada quatro habitantes do nosso planeta, três vivem em países mais  pobres que o Brasil.
            Se a renda que existe hoje em nosso país fosse igualmente dividida, todas as famílias teriam três vezes mais o que precisam para satisfazer suas necessidades básicas, como se alimentar, se vestir, etc. Isso significa dizer que ninguém seria pobre no Brasil. Mas a realidade é outra e bem cruel: de cada três famílias brasileiras, uma é pobre.
            No Brasil, enquanto a minoria vive com muito, a maioria tem muito pouco. É gritante a desigualdade: o que os mais ricos gastam durante um fim de semana, os mais pobres gastam para se alimentar durante todo o ano.

De onde vem tanta desigualdade?

            É verdade que as crianças ao nascerem não são idênticas. Alguns são meninos; outras, meninas. Alguns nascem brancos e outros negros. Alguns nascem com aptidão para escrever; outros, para fazer contas. Mas ser diferente não significa ser pior ou melhor. Toda essa diversidade é o que faz os seres humanos diferentes. Diferenças não geram desigualdade. É inegável que algumas crianças nascem  mais talentosas que outras e que talvez por isso venham a ter melhores condições financeiras ao crescerem. Mas esses casos são raros, exceções. A desigualdade vem do fato de que a algumas crianças são dadas amplas oportunidades e a outras, oportunidades muito limitadas. Seja porque algumas vêm de famílias pobres ou das regiões mais remotas do país, seja porque são tratadas de forma distinta por serem brancos ou negros, meninos ou meninas. Essa é a grande fonte da desigualdade no Brasil.

DUAS HISTÓRIAS DE DUAS CRIANÇAS BRASILEIRAS:
O passo- a- passo da desigualdade.

  1. Duas crianças brasileiras igualmente talentosas nascem no mesmo dia.
  2. Uma menina negra nasce no interior do Nordeste em uma família pobre cujos pais são analfabetos.
  3. Um menino branco nasce em uma próspera cidade da região Sul, de uma família rica, cujos pais fizeram faculdade.
  4. Embora as duas crianças tenham o mesmo potencial, apenas uma delas terá as oportunidades e condições para desenvolvê-lo plenamente  e todos nós já sabemos qual.
  5. Aos 15 anos, as diferenças entre as duas crianças já são marcantes. A menina nordestina ainda freqüenta a 4ª série, pois entrou tarde na escola e repetiu de série pelo menos uma vez. O menino já completou a oitava série em uma boa escola e agora fará o 1º ano do ensino médio numa boa escola particular.
  6. Aos 18 anos, a menina já é mãe e tem de trabalhar em casa e fora de casa para sustentar sua família.
  7. Enquanto isso, o menino acaba de entrar em uma boa universidade pública. Sua família lhe garante plenas condições para que possa se dedicar aos estudos em tempo integral e com todo o material necessário(livros, cadernos, computador) para aproveitar ao máximo o aprendizado.
  8. Aos 25 anos, o menino já terminou a universidade e começa a trabalhar em um excelente emprego em que recebe salário inicial superior a R$ 2.000,00 por mês. Enquanto isso, a menina permanece em um trabalho precário e recebe R$ 50,00 por mês.
  9. Aos 40 anos, a menina já tem três filhos. Ela pode ter parado de trabalhar para cuidar dos meninos. Seu marido é um trabalhador do campo, que teve de sair da escola na 4ª série e recebe só R$ 150,00 por mês. Nesse momento, o menino estará casado, terá um filho e sua esposa terá também ido à universidade. Ele deverá receber cerca de R$ 3.000,00 e sua esposa, R$ 1.500,00.
  10. O menino cresceu e tornou-se chefe de família. Vive com R$ 4.500,00 por mês e são apenas 3 pessoas (ele, esposa e um filho). A menina vive em uma família que só pode contar com R$ 250,00 por mês para atender a todas as necessidades. São cinco pessoas: ela, o marido e três filhos.
  11. O que o menino gasta com sua família num único fim de semana dá para cobrir todas as despesas que a família da menina tem em um mês.

Essa elevada desigualdade não foi gerada por diferença de talento entre as crianças e sim pela diferença na atenção e no tratamento que elas receberam.
É fácil entender como a desigualdade é gerada no Brasil, como fica claro a partir desse pequeno exemplo. Difícil é compreender por que deixamos que ela continue a ser gerada todos os dias.

FONTE: Instituto Ecofuturo

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