PARA A TURMA E-2101 - PEDRO ADAMI - AGOSTO 2011


EDUCAÇÃO PARA O FUTURO   -  Gustavo Ioschpe

O Brasil está preso. Há mais de vinte anos o país não cresce. Assistimos inertes ao avanço de um país depois do outro e ficamos discutindo mil e um problemas pontuais: a taxa de juro, de câmbio; estradas e portos; o volume de impostos e a corrupção. E soterrados pela avalanche de problemas, não conseguimos ver as questões maiores, que influenciam todas as outras. A principal delas, no nosso caso, é a educação. Para acabar com a pobreza e diminuir as desigualdades sociais, é preciso crescer economicamente.
Para crescer economicamente, a experiência de todos os países aponta que há uma matéria-prima fundamental: gente.
Não adianta nada termos grandes recursos naturais e minerais. Algum país já se desenvolveu plantando arroz ou mesmo vendendo petróleo? Não, nenhum.
A riqueza das nações é produzida por suas pessoas. Por seus cérebros. E é na educação que esses cérebros são acolhidos e formados. Nossa educação tem falhado na tarefa de dar aos nossos cidadãos a chance da liberação de suas potencialidades.
Esta é a função de toda ação pública, especialmente na área educacional: remover os entraves do ambiente para que cada pessoa possa se desenvolver no limite máximo de suas capacidades e vontades. Mas segundo os últimos dados do setor, o que nossas escolas fazem é golpear profundamente as possibilidades dos brasileiros: 74% de nossa população não é plenamente alfabetizada. São pessoas condenadas a viver eternamente à margem desse período histórico fascinante a que assistimos, prenhe de possibilidades infinitas, que é chamado de Era do Conhecimento.
Segundo o último SAEB, o teste do MEC que mede a qualidade da educação, 55% de nossas crianças de 4ª série estão em situação crítica ou muito crítica na área de leitura, ou seja: mal sabem ler.
Enquanto nossas escolas forem alojamentos em que as crianças passam algumas horas por dia e saem  com praticamente os mesmos conhecimentos e competências com que entraram, vamos continuar sendo o país do futuro – um futuro que nunca chega.
Monteiro Lobato dizia que um país se faz com homens e livros. E os homens nem precisam nascer iluminados: basta que leiam – e entendam – os grandes livros.


VIOLÊNCIA E ORGULHO  - Yves de La Taille

A violência é definida habitualmente como ato de coagir alguém física e/ou psicologicamente para atingir um fim que interessa apenas ao agressor ou ao seu grupo, como por exemplo: matar o inimigo para se apoderar de suas terras; bater em alguém para  que obedeça ao agressor; coagir sexualmente uma pessoa para experimentar prazer.
A coação implica que a pessoa que comete o ato violento tem, pelo menos momentaneamente, mais força ou mais poder que sua vítima.
Algumas pessoas têm orgulho de serem violentas. Nesse caso, o objetivo da pessoa violenta é ver a si própria como pessoa de valor por considerar-se esperta, poderosa  e também por ser violenta. Nesses casos, a vergonha não vem de julgar-se desonesto, tirânico ou brutal, mas, pelo contrário, do medo de ser visto como otário, súdito ou fraco. Logo, ser violento pode ser motivo de orgulho para alguns;  esses mesmos para quem ser pacífico seria motivo de vergonha. Nesses casos, a pessoa não emprega a violência para atingir certos fins que lhe interessam: ela usa a violência como forma de valorizar a si mesma, e, para que tal valorização possa se alimentar, para que essa forma de orgulho possa existir e se manter, torna-se necessário coagir outrem, física ou psicologicamente.
Nos dias de hoje, assistimos a essa valorização narcísica da violência, onde ser alguém depende mais do poder que exercemos sobre os outros que dos próprios méritos; onde ser alguém não é tanto ser inteligente, ser talentoso, ser justo, ser generoso; ser alguém é ser mais que o vizinho, mais forte, mais poderoso.
Existem, sim, pessoas que cometem atos de violência por falta de contenção, de autocontrole ou de disciplina. Falta de limites. Para essas, aprender a se controlar é imperativo.
Todavia, para o violento orgulhoso não é disciplina ou limites que está em jogo. Aliás, ele pode até ser muito disciplinado, arquitetando lenta e minuciosamente formas de violentar o próximo.
Não é fácil enfrentar a ideologia social vigente, que valoriza a glória, a fama, o sucesso, a competitividade, e que pouco fala de honra, do mérito, da cooperação. Difícil, porém, não quer dizer impossível.


OS ESTATUTOS DO HOMEM
(Ato Institucional Permanente)
Thiago de Mello

ARTIGO I
Fica decretado que agora vale a verdade.
Agora vale a vida, e de mãos dadas
marcharemos todos pela vida verdadeira.

ARTIGO II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

ARTIGO III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.

ARTIGO IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.

PARÁGRAFO ÚNICO
O  homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.

ARTIGO V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.

ARTIGO VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

ARTIGO VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

ARTIGO VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.

ARTIGO IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal do seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.

ARTIGO X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.

ARTIGO XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

ARTIGO XII
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.

PARÁGRAFO ÚNICO
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

ARTIGO XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

ARTIGO FINAL
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre o coração do homem.

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