PERSONAS
01
Dedicatória
Nathália
um sonho, uma ausência, uma saudade;
Matheus
um sonho, uma realidade,
um presente presente;
Ana Paula
a mulher que escolhi amar
enquanto vida houver.
02
Agradecimentos
Aos amigos e leitores.
À Primeira Igreja Batista em Unamar,
especialmente ao companheiro e pastor Luciano,
pelo incentivo, pela moral que tem me dado.
À FABAMA
Faculdade Batista
Macaense.
03
APRESENTAÇÃO
Minha última
publicação em forma de livro é de 1998, foi uma parceria com Demétrio Sena, meu
amigo, da Academia Mageense de Letras.
Entre 1990 e 1998, publiquei cinco livros, depois dei uma parada. Na
verdade, nunca parei de escrever, parei de publicar livros, por uma série de
razões. Já estava angustiado precisando publicar-me. Minha amiga Andréa costuma
dizer que me alimento de palavras, e acho que tem razão.
Um dia desses, num
momento informal, meu companheiro e pastor Luciano me propôs o desafio de fazer
uma publicação em 2009. Eu sei que pela cabeça dele, naquele momento, deve ter passado uma obra teológica, eclesiológica, mas saiu isso.
Estive pensando
longamente no formato, na cara que daria a esta produção. Resolvi então chamá-la
de PERSONAS, que significa MÁSCARAS, de onde vem a palavra PERSONALIDADE. Então,
me apresentarei aqui usando diversas personas: o cristão evangélico, o amante da Teologia, o
estudante de Psicanálise, o ser humano, o homem em construção, o escritor, o
sonhador, o educador, o professor apaixonado pela língua portuguesa, pelas
artes, o intolerante com a intolerância, o militante das causas sociais, o pai,
o marido, o amigo e mais alguma coisa que devo ter esquecido.
Não sou uma pessoa especial, tenho defeitos,
dificuldades, dúvidas a balde, momentos de solidão, momentos de chatice, e é
com esse cara que você vai conviver por algumas páginas, por alguns poemas.
Enfim, obrigado por
ter adquirido este livro. Venha refletir um pouquinho comigo. Vamos juntos
frustrar o sistema vigente, que vê em cada pessoa um reprodutor do próprio
sistema e um consumidor de bens. Diferente disso, somos seres pensantes e como
tais precisamos explorar essa nossa capacidade e mostrar a esse sistema estabelecido que ele falhou: nós
pensamos.
Boa leitura, boa viagem pelas
páginas de PERSONAS.
Isac Machado de Moura
04
PREFÁCIO
Parafraseando
o próprio Isac, PERSONAS é um
texto livre, estilístico, que atinge o alvo, que não leva o leitor ao
dicionário a cada linha; é claro, objetivo, leva o leitor a questionar, pensar, refletir,
transformar. Tem poemas bem construídos e cheios de vida, com uma ironia para
temperar e uma sinceridade quase cortante, enfim, este livro é a cara do autor.
Sem papas na língua, ele apresenta suas ideias de uma forma absolutamente contagiante. Não
tem como não se sentir inspirado a discutir sobre assuntos que fazem parte do
nosso dia a dia aos quais muitas vezes não damos a devida importância.
Seja
como educadores, como cristãos ou simplesmente como seres humanos que somos,
este livro encanta, envolve e causa admiração. É um livro para os dias em que se cansa de engolir
apenas o que a televisão mastiga por nós, para os dias em que nos sentimos mal
por precisar de uma folga das obrigações, para o dia que precisamos nos humanizar. É desafiante
falar de uma parte de alguém, mas é maravilhoso perceber que ainda existem
professores que são construtores de opinião como Isac. Esse livro, creio eu, é
um presente para quem vai ler.
Passeie
por estas páginas faminto, pois, sem dúvida, sua fome de questionamentos, de
vida, de verdade sem romantismo, plenamente real e ainda assim admirável, será
satisfeita.
Stephanie Zuma Lacerda
05
GRÁVIDO
Estou grávido de um livro
Que se recusa nascer,
Acha que vai sofrer,
Prefere não vir à luz.
Já passou do tempo
E já não aguento essa gravidez.
Estou grávido de alguns versos,
Sei que é mais de um,
Talvez chegue a dez
Ou passe
E esse impasse me preocupa deveras.
Sinto dores,
Vai nascer,
Você poderá ler tão logo venha à luz,
Não terá olhos azuis,
Mas fará você pensar.
06
TEXTO, GRAMÁTICA, LIBERDADE
Se escrevo, esqueço a
gramática.
Se observo a
gramática, não escrevo.
São tantas regras!
Melhor escrever,
Depois revisar,
Eliminar as
aberrações,
Esquecer o radicalismo
gramatical,
Manter o que
interessa:
A mensagem.
Se observo a
gramática,
Não escrevo,
Meu texto fica frio,
Calculado,
Regrado,
Limitado.
Quero um texto livre,
Estilístico,
Que atinja o alvo,
Que não leve o leitor
ao dicionário
A cada linha.
Simples,
Claro,
Coerente,
Objetivo,
Que leve o leitor a questionar,
Pensar,
Refletir,
Transformar.
Depois gramática,
Primeiro liberdade.
07
NOSSA LÍNGUA, NOSSA VIDA
Nossa
língua,
nossa
vida,
primeiras
palavras,
primeira
lição,
nossa
cultura,
comunicação.
Língua
nossa de cada dia,
do
grego, do latim,
nossa
língua tupiniquim,
mais
latim que grego,
nossa
língua sem segredo,
purinha
não,
em
constante evolução:
estrangeirismos,
gírias, jargão,
do
inglês, um montão.
Nossa
língua,
nosso
conhecimento,
mudanças,
evoluções,
enriquecimento,
empobrecimento
também,
ninguém
é de ferro,
nenhuma
língua é de ferro,
é
flexível,
vive
em constante mutação,
não
é da gramática,
é
do povão...
e
que lição!
Língua
nossa de cada dia,
novas
palavras,
novos
conceitos,
psicológica,
neológica,
evolutiva,
às
vezes, natural,
ágrafa,
bem
popular,
08
sem registro;
o
registro coloquial
em
submissão ao culto,
dominação,
a
língua como instrumento de mando,
de
discriminação;
sem
anulação,
um
registro não anula o outro,
aborto
linguístico não,
variação,
ambos
em harmonia,
um
formal,
outro
no dia a dia.
Nada
de preconceito gramatical,
discriminação,
ora,
a língua é de todos nós
e
se temos voz,
usamos
a língua,
com
regras ou não,
isso
é comunicação,
interação
humana.
09
POEMA-PREGUIÇA
Escrever é preciso
Preguiça
O cérebro ferve de ideias
Preguiça
É preciso escrever
As ideias vêm e vão
A preguiça continua
As ideias voltam e voltam
Preguiça
Ou cansaço?
Ou trabalho em excesso?
Preguiça
E as ideias fervilham
Muito depois, sai esse poema,
Cansado
Preguiçoso
Pequeno
Mas as ideias ainda fervilham
Perturbam
Querem sair em forma de palavras
Querem espaço
Compasso do verso
Tropeço
Não raro,
Preciso escrever.
10
GENTE
Muitas vezes, sinto
necessidade de escrever,
de dizer qualquer
coisa
para qualquer pessoa
ou algo especial
para alguém especial,
de confessar meus
poucos segredos,
minhas muitas
fraquezas,
meus variados medos;
de declarar meus
sentimentos todos,
de me emocionar:
chorar, sorrir,
vibrar,
expressar minhas
emoções
quase sempre contidas,
de expor meus
conceitos,
publicar-me.
Outras vezes, tenho
preguiça
e não quero falar nada
com ninguém
nem confessar coisa
nenhuma
e aí quero afastar-me
de tudo
e de todos
e ouvir somente a
poesia sonora do mar
e recolher-me numa
introspecção
pessoal, egoísta,
exclusiva.
Ainda outras vezes,
desejo dormir e
sonhar,
fecho os olhos e não
durmo,
mas sonho assim
mesmo...
acordado.
Algumas vezes,
sinto-me solitário
em meio a tantas
pessoas...
e, então, me acho
estranho.
Haverá algo mais
estranho
11
e complexo, e sem
jeito
que a solidão coletiva
num elevador?
É estranha e cruel
a solidão verbal,
a falta de palavras,
o não saber o que
dizer,
o que fazer...
e aí, no meio do nada,
um comentário vago
da parte mais
incomodada,
prova incontestável
da necessidade humana
de interagir:
-
que dia quente,
né?
-
que dia frio!
-
Que chuva!
-
......
e a volta à solidão silenciosa.
Somos apenas humanos
e, por isso mesmo,
complexos... estranhos...
quase iguais,
embora tão diferentes;
amáveis,
odiáveis,
surpreendentes,
inquietantes,
pacíficos,
guerreiros,
Isaques,
Anas,
Marias,
Beatrizes,
gente.... é o que somos de fato.
12
GENTE
É ARTE
Gente
costuma ser artista,
gente
sonha,
viaja,
gente
escreve,
interpreta,
representa,
pinta,
dança.
Gente fica
adulto
e continua
criança.
Gente
canta,
compõe,
fabrica
instrumento
e dele
tira som.
Gente
descobre-se artista
um dia,
de
repente,
gente faz
a arte acontecer,
Gente já
nasce artista.
13
FLÂNEUR
Sou um flâneur,
Em bom português brasileiro,
Um flané,
Um mané,
Irmão do zé,
Vivo no mundo da lua
Ando pela rua a contemplar
Admirando
Flanando com o tempo
Com o lugar
Com as mudanças
Com as pessoas e suas construções.
“o tempo não para”,
Disse outro flanador
E “todo mundo é parecido
Quando sente dor.”
E assim vou flanando,
Passando,
Voltando ou não,
Formando um arquivo de imagens.
Sou um flanador,
Quase doutor
Na arte de flanar.
14
QUEM SOU EU?
Tenho crenças,
Certezas,
Dúvidas,
Amores,
Paixões,
Sonhos,
Dúvidas,
Projetos,
Expectativas,
Dúvidas,
Medos,
Alegrias,
Tristezas,
Dúvidas...
Enfim, sou gente.
Hoje, construo
As saudades de amanhã,
Tenho dúvidas
E “prefiro ser
Essa metamorfose
ambulante
Do que ter aquela
velha opinião
Formada sobre tudo.”
Como todo ser humano,
Sou estranho,
Caótico.
Tenho uma tendência ao
isolamento.
Talvez me entenda
melhor
Com os livros do que
Com as pessoas,
Mas amo as pessoas,
15
Embora frustrem,
decepcionem,
limitem.
São pessoas que
escrevem os livros,
Leio pelas pessoas
também,
Trabalho com pessoas,
Por pessoas.
Pessoas sempre
surpreendem,
Assustam.
Por vezes, me pego
solitário
No meio de uma
multidão,
Todos falam,
Eu aciono a tecla MUTE
E não ouço nada,
ninguém,
Me isolo.
Às vezes
Tenho medo do meu
isolamento.
16
ESTRANHO
Não, eu não sou assim,
é só hoje,
amanhã estarei
diferente;
se normal, não sei,
mas diferente.
Hoje, estou estranho,
calado,
quieto,
estou pensando no
ontem,
no hoje,
no amanhã.
Eu não sou assim,
estou chato,
silencioso,
reflexivo,
comportado.
Não...
eu não sou assim,
voltarei ao normal,
ao meu normal...
hoje não,
amanhã.
.....
Às vezes tenho a
impressão
de que o tempo não
passou
e me vejo no passado,
adolescente,
curtindo do meu jeito
momentos que se
eternizariam
e, então, revivo uma
seleção
cenas bacanas
e me sinto mais jovem
do que de fato sou.
17
Outras vezes,
percebo que o tempo
passa
e que junto com ele
passam pessoas,
fatos, ambientes...
e ficam as saudades...
.....
Hoje, estou chato,
reflexivo,
recordativo...
amanhã será outro dia.
18
HOJE
NÃO
Hoje, ainda não quero
falar,
não quero escrever,
não quero ver ninguém,
quero apenas recordar.
Quero relembrar
momentos,
pessoas...
momentos e pessoas são
inseparáveis.
Quero sentir saudades,
reviver abraços,
olhares, sorrisos,
conquistas, lutas,
vitórias, superações.
Quero recordar
partidas,
despedidas,
reencontros.
Quero rever
fotografias,
correspondências.
Quero sofrer a
ausência de amigos
que partiram tão cedo
para não mais
retornarem.
Quero pensar na Paula
barriguda,
reviver a ansiedade do
nascimento,
rever a imagem da
nossa filhinha.
Hoje, quero viver de
lembranças,
cavucar saudades,
sonhar com o passado,
quero relembrar aquela
lágrima
que em tantos momentos
insistiu em rolar,
aqueles sonhos que se
desfizeram,
aquelas motos
assassinas,
aquelas doenças
misteriosas,
aquele infarto
precoce.
Hoje, o tempo parou,
mas logo voltará a
passar...
"o tempo não
pára..."
19
O MONSTRO QUE MORA EM MIM
Paulo,
O apóstolo sistematizador do Cristianismo,
Ora chama de velho
homem,
Ora de carne;
Freud chama de
inconsciente...
É o obscuro de nós,
O que milita contra o
espírito.
Esse espírito, para
Freud,
É o superego, o
consciente.
Seja qual for o nome,
É o monstro que mora
em mim,
Sem valores,
Sem pudores,
Sem limites,
Em constante briga
Com minha consciência.
Esse monstro armazena
em sua memória
Imagens,
Áudios,
Fatos.
Ele é autônomo,
Nem sempre posso
controlar
O monstro que mora em
mim.
20
ATESTADO
MÉDICO
Hoje,
quero perder a noção de tempo,
dizer
coisas descabidas,
sem nexo,
quero ser
imperfeito,
insensato,
apaixonado;
quero
tornar-me mais novo
que meu
filho
e quero
que ele me reeduque,
me ensine,
conduza
minhas ações,
desperte o
brilho dos meus olhos
diante de
coisas pequenas,
porém
grandiosas,
me
faça menino.
Quero ter
o direito
de me
contradizer,
me
modificar;
quero
andar sem destino,
perder
um pouco o tino
e dizer bobagens.
Quero não
me preocupar
com as
contas a pagar,
com
ligações a fazer
ou a
receber.
Quero nem
ligar
quando o
sinal bater;
não quero
ir pra sala,
não quero
ver diários,
notas,
nada,
quero
apenas ir embora,
vou fugir da
escola,
21
aliás, nem vou lá;
vou sentar
na areia
e observar
o mar,
ver o dia
passar,
todo,
inteiro
e
permanecer ali
vendo o
sol partir
e a lua
chegar.
Quero ver
o mar,
quero
vadiar,
perder a
hora,
esquecer
um pouco a escola
e todas as obrigações,
só ouvir
canções,
gospel,
axé, rock nacional, mpb,
viver o
agora,
o momento,
o já;
brincar,
viajar na
maionese,
fugir da
rotina,
correr,
tomar
banho de chuva,
se chover.
Hoje, só
quero ser gente,
Pessoa,
quero
ficar à toa,
me sentir
livre,
leve,
solto,
anônimo;
quero
sentar à margem do São João
e atirar
pedrinhas na água
com o meu
menino,
22
depois
pegar uma estrada sem destino,
andar de
mãos dadas com a amada,
parar em
algum lugar,
comer um
pastel,
um caldo
de cana,
abraçar a
Ana,
ir a uma
cachoeira,
pular na
água gelada
de roupa e
tudo,
acampar,
curtir o
luar.
Depois,
escrever um poema
que
justifique minha falta ao trabalho,
voltar
para casa,
ligar o
computador,
ler os
e-mails,
responder,
tomar
nescafé com leite,
um pouco
de sorvete,
um pedaço
de pão,
deitar no
chão e dormir.
Hoje, faço
trinta e cinco,
e me sinto
com vinte;
de
presente queria um cd do Legião Urbana,
ganhei
todos, antes;
um livro
do Chico Buarque,
um caiaque
com remo,
um abraço
da família,
um sorriso
dos amigos,
o direito
de não ouvir um “parabéns pra você”
e não
saber o que fazer diante de tal tortura.
23
DESCRÉDITO
Não confio na imprensa
nem na
justiça,
as duas
são manipuláveis
e devidamente manipuladas
pela burguesia,
estando quase sempre
a serviço do poder.
Justiça?
Ou fazemos com as próprias mãos
ou abrimos mão dela.
Sem dinheiro não há justiça
nem democracia
nem imprensa favoráveis.
A imprensa elogia quem paga mais,
a justiça defende e inocenta
quem tem dinheiro,
poder,
as duas coisas.
Essas são as maiores
conquistas do dinheiro:
a justiça,
o direito de ser julgado
pelo Supremo Tribunal Federal
libertador
e a imprensa.
Seria a imprensa um quarto poder?
24
DESENCONTRO
O homem corre,
Entrega-se de corpo e alma
A projetos humanos desumanos,
Pesquisa a terra e o espaço,
Atrapalha-se em seu próprio embaraço,
Acabando preso em um laço
Sem dá um passo pelo progresso.
Chega à lua,
Morre na rua,
Fica na sua;
Mas não consegue o homem
Encontrar-se consigo mesmo,
Nem com Deus,
Nem com o próximo.
Buscando o progresso,
Cai no retrocesso,
Foge da vida.
Chega à lua,
Fica na sua, volta à terra,
Morre na rua.
25
CONVIVER
Conviver é arte;
compartilhar,
um grande desafio.
O desafio de dividir,
amar,
negociar,
ceder,
abrir mão,
bater o pé,
insistir,
desafiar,
sonhar,
dizer sim,
não,
talvez,
porque conviver é
luta,
unidade na
diversidade,
discordância na
aceitação.
Conviver é troca,
adaptação,
é pensar com o coração
e ser racional;
é a busca do normal
no meio de diferenças,
considerar desavenças
e dividir alegrias.
26
O ETERNO
Nem sempre o eterno é eterno,
ainda que seja, particularmente, eterno.
Há pessoas que passam pelas nossas vidas
por um curto momento,
curtíssimo momento,
mas se eternizam...
jamais se desintegram:
a imagem fica,
a lembrança,
a saudade,
o sofrimento.
Foi assim com Nathália,
eternizou-se,
embora não tenha chegado a nascer.
Pra ser eterno não é necessário nascer,
basta viver intensamente,
transformar vidas,
deixar marcas.
Ninguém é eterno,
apesar de eterna ser a vida.
Embora eternos,
um dia morreremos
e nos eternizaremos
na memória de tantos
e na vida pós-túmulo.
27
MEU MENINO
Meu menino cresceu
Eu não
Já fica um dia inteiro
Longe de nós
Já não chora
Já nem liga
Já bate em meu ombro
Já calça número superior ao meu.
Outro dia mesmo
O carregava no colo,
Embalava-o até dormir;
Às vezes, eu dormia primeiro.
Lembro dos primeiros passos
Como se fosse ontem,
Das perninhas tortas,
Dos passos trôpegos,
Das primeiras palavras entrecortadas.
Eu não me dei conta,
São dez anos.
Tenho a imagem dele chegando
Com um jacarezinho de borracha na mão;
Das primeiras noites mal
dormidas,
Da primeira gargalhada,
Do primeiro banho,
Do primeiro dia de aula.
Ele não chorou,
A mãe sim,
Ou quase.
Ficou ali parada no portão da escola,
Sofrendo,
Esperando que ele chorasse,
Mas não chorou.
Lembro das vacinas,
28
Eu sofrendo.
Lembro do dentinho quebrado,
Do sangue,
Da agonia materna.
Ah, e quando me esperava acordado,
E quando o carro parava na garagem
E ele corria para mim
Todo sujinho,
Às vezes já cheirosinho,
E me abraçava,
E pulava em meu colo.
Hoje faz dez anos,
Uma década,
O tempo não para
E ele não para de crescer,
Já não posso chamar de bebê.
Ele mudou nossas vidas.
Ainda não me adaptei
A esse tamanho todo.
Dez anos de histórias.
29
CANÇÃO DA VIDA
Se a vida é bela,
você é parte dela,
desse universo,
desse mundão,
é parte dessa canção
que Deus compôs com carinho...
a canção da vida,
que às vezes intriga,
surpreende,
agita,
mas que é sempre bonita
e cheia de emoção.
Se a vida é bela
é porque existimos,
choramos,
sorrimos,
fazemos acontecer...
e se pensa você
que a vida acaba,
está enganada,
ela é eternizada em nossas
memórias,
em nossas lembranças;
e se lembro,
está vivo,
está viva,
pelo menos em meu interior.
A vida é eterna,
nós somos eternos,
eterna é essa canção
que Deus, em seu violão,
vai compondo a cada dia,
produzindo uma harmonia
que nem sempre entendemos.
30
Assim, o compositor divino
vai juntando suas notas,
dedilhando seu violão
e todos vamos dançando
ao ritmo dessa canção.
Ora a melodia é alegre,
ora é triste,
agora uma nota existe,
depois deixa de existir,
pega outra nota ali,
encaixa na melodia,
amanhã será outro dia,
será preciso seguir.
NOTA: Para a minha amiga Isabel, num momento de
dor.
31
A
PONTE
Só há uma forma de evitar,
No futuro,
Uma volta ao passado:
Destruir a ponte que acabamos de atravessar
Rumo ao presente,
Mas geralmente não temos coragem,
Então, algumas vezes,
Voltamos ao passado.
Se algumas vezes
Essa volta proporciona prazer,
Tantas outras proporciona sofrimento,
Mas cadê coragem para destruir a ponte?
E se o futuro não for tão bom assim?
E se de repente, precisar
Me proteger no passado?
Lá estará a ponte,
A garantia de retorno,
Nos tranquilizando,
Nos dando segurança.
Ainda que não a usemos com frequência,
A certeza de que estará lá,
No mesmo lugar,
Nos acalma.
Pode não ser legal destruir a ponte.
32
DESCONTINUIDADE
EDUCACIONAL
Primeiro plano,
Segundo plano
E outro plano,
Educação vai pelo
cano,
Educador é um cocô.
Descontinuidade,
Irresponsabilidade
político-eleitoral,
Descompromisso geral:
Municipal,
Estadual,
Federal,
Situação ilegal,
Plano educacional
Que visa o capital.
Educação pública de
teorias,
De experimentos,
Decompromissada com os
filhos do povo.
Os envolvidos com a
escola pública
Protegem seus filhos
na particular
E danam a testar, nos
filhos do povo,
Teorias mirabolantes,
Estrangeiras,
Destinadas ao
fracasso.
Critica-se o professor
público conteudista,
Mas os filhos dos
críticos
Estão numa escola
privada conteudista.
O professor ainda não
entendeu
Que o sistema foi
projetado
Para produzir
resultados,
Estatísticas, verbas,
Ele não tem que
ensinar,
Não tem que levar os
filhos do povo
A pensar,
33
Sua função é
reproduzir o sistema
Sem questionar.
Ele não aceita se
submeter,
Ele sabe onde estão as
falhas
E quer resolver.
O sistema não perdoa
E manda-lhe a
maldição:
Terás que trabalhar
todos os dias,
Todos os turnos,
Te cansarás,
Pensarás pouco,
Aliás, nem terás tempo para pensar
Muito menos para
estimular
O pensamento nos
filhos do povo;
Do suor, do cuspe e do
pó de giz,
Comerás, tirarás o teu pão,
Teu sustento,
Não terás aumento
E nem condição de
encarar,
Vais te aposentar sem
gratificação,
Morrerás no anonimato.
Se fores inteligente,
Me reproduzirás,
Pagarás uma escola
particular
Para o teu pequeno,
Fingirás que ensinas
aos filhos do povo,
Poderás comandar a
educação,
Acolherás todos os
planos
Para o bem da nação
E garantirás os
trabalhadores braçais de amanhã,
Basta que te prostes,
Que te submetas,
Que digas amém.
34
TEORIA E PRÁTICA
Quanto mais belo o discurso,
mais
deficiente a prática:
palavras
belas,
discursos
inflamados,
uma
prática fracassada,
ineficiente,
incapaz,
incompetente
até;
quer
compensar a prática
com
a teoria.
Que
mania!
Fala...
fala...
um
lindo blá...blá...blá...
termos
difíceis,
teorias
diversas,
geralmente
estrangeiras,
uma
prática lamentável.
“Amigos,
vamos repensar
nossa
prática como educadores,
vamos
resgatar a dialética,
vamos
resgatar a visão piagetiana,
vamos
rever nossa práxis.”
Belas
palavras!
Nada
contra as teorias,
nada
contra Piaget
(até
porque
“teoria
pedagógica nos filhos
dos
outros é refresco”,
os
nossos estão protegidos
na
rede particular conteudista),
tudo
contra você, enrolão,
que
vê a educação
35
como
um simples quebra-galho,
que
é um mal profissional
e
quer pegar um atalho para o “sucesso”.
Sucesso
é trabalho!
Grandes
criadores de projetos,espertos!
Sua
participação é sempre pequena,
“é justo”: já criou o projeto, já apareceu,
depois
se escafedeu,
os
colegas que se virem,
que
façam acontecer.
Longas
reuniões,
inflamados
conselhos,
há
sempre uns pentelhos
com
ideias mirabolantes
para
turmas gigantes.
Quem
é sensato
logo
vê a impossibilidade
e
logo é taxado de pessimista,
claro
que é possível - diz o projetista -
como
se cada profissional
não
soubesse o que fazer
ou
não conhecesse a realidade
de
sua clientela.
Os
que trabalham de fato
O
fazem “calados”, quietinhos,
sem
“gritar aos passarinhos”,
como
diria Quintana;
vê-se os resultados do trabalho.
Do
projetista de plantão
nunca
vemos nada;
ele
precisa, então, falar,
espalhar
aos quatro ventos
que
é capaz de pensar.
Parabéns,
colega,
mas
por favor, sou pessimista,
me
deixe apenas trabalhar,
só
acredito no trabalho, na prática,
e não suporto
blá...blá...blá...
36
O ECA SISTEMA
Num mundo globalizado,
privatizado,
terceirizado e neoliberado
não justifica-se a cidadania;
precisamos apenas,
e nos damos por contente,
ser freguês,
usuário,
cliente.
O sistema é intocável,
cruel,
superior;
o ser humano, um detalhe,
um cocô.
MORTOS SOCIAIS
Eles têm nome,
Família, certidão,
Alguns têm até CPF,
Identidade,
Mas estão à margem.
Se morrerem,
Ninguém chorará sua
partida;
Não influenciam a
sociedade,
Não são notados,
São como postes.
São bichos
abandonados,
Sobrevivem assim.
São mais instinto que razão,
São os mortos sociais.
Existem vários
brasileiros assim,
E a pátria não quer papo com eles.
37
OS
ANOS PASSAM... AS INJUSTIÇAS PERMANECEM, MAS É NATAL
É natal
E talvez por ser natal
Tudo continue tão desigual:
Uns tão ricos,
Outros tão miseráveis.
Porque é natal,
o papai Noel burguês
e o pequeno burguês
entram pelas chaminés
de algumas poucas casas selecionadas
e deixam presentes.
Mas naquele casebre
De restos de madeira,
Naquele de barro,
Naquele pendurado nas encostas,
Nenhum papai Noel apareceu.
Talvez por não terem chaminés,
Talvez por medo de derrubar
O casebre miserável..
Talvez, simplesmente,
Porque para essa gente
Não existe papai Noel.
Ei, papai Noel dos miseráveis,
É natal,
Acorda, a corda.
Segregaram o natal,
O papai Noel burguês não aparece
Nos casebres proletários,
Mas é natal,
Tempo de confraternização.
Os pobres servem aos ricos
E ficam felizes por servirem,
38
É emprego,
É natal;
Alguns já não têm o privilégio de servir,
É desemprego,
É natal.
O natal dos ricos e dos mais ricos,
Dos pobres e dos miseráveis,
Dos miseráveis e dos mais miseráveis ainda,
É natal,
Confraternização universal.
Nas ruas, alguns se esbaldam,
Outros aproveitam as sobras,
Festa para aqueles que comemoram
O natal das sobras,
Dia 26... é natal,
Confraternização universal.
Para alguns, na véspera;
Para outros, no dia;
Para outros, depois,
Não importa,
É natal...
Noite de sonhar...
Para aqueles que podem dormir.
39
O PAÍS NOSSO DE CADA DIA
Morte,
escândalo,
roubo,
guerra...
nunca
acerta,
sempre
erra:
erra
o alvo,
erra
a dose,
erra...
erra...
viola
painel,
ficamos
pinel,
pega-se
um pincel,
tudo
se apaga,
quatro
anos depois
já
não se lembra de nada.
Rouba-se,
votos
se compram,
CPI
não sai,
tudo
acaba em samba:
unidos
vai-vai
e
assim vai.
Que
horror!
Que
droga!
Que
guerra!
Nunca
acerta,
sempre
erra.
Erra-se
voto,
corrompe-se
apuração;
procuro
um honesto,
só
vejo ladrão.
Pode
haver exceção...
Conheço
não.
O
povo na mão.
Que
situação!
40
Doenças
aparecem...
do nada?
da
miséria;
diz-se
que poucos morreram,
mas
morreram muitos,
ninguém
deveria morrer;
pagamos
impostos,
queremos
viver.
“Viver
é uma ordem”,
diria
o poeta.
A
vida tornou-se banal.
Que
meleca!
Somos
parte de uma estatística,
nada
mais.
Destroem
armas antigas
e
afirmam que estamos em paz.
Eu
não aguento mais!
Salários
pra baixo,
preços
pra cima:
inflação
controlada.
E daí?
Ora,
o FMI é aqui.
Tudo
acaba em pizza,
bolinhos
e muita folia
nesse
país nosso de cada dia.
41
SONHO ABORTADO
Só queria estudar,
fazer o vestibular
e cursar uma
faculdade.
Morava numa cidade
que era maravilhosa,
descontrolada,
calamitosa;
a autoridade
competente
que era incompetente
disse que dali pra
frente
não havia o que fazer,
cada um por si
e vamos ver.
Ele estudava,
se esforçava,
vestibular,
ia fazer o vestibular.
Lá no cursinho,
tão esforçado,
mesmo cansado,
ia estudar...
fazer o vestibular.
Um belo dia,
um dia feio,
saiu mais cedo
pra descansar,
ia pra casa
todo animado,
mesmo cansado
de labutar....
fazer o vestibular.
Já a caminho,
42
animadinho,
indo pra casa,
que confusão:
todos corriam,
se protegiam,
não entendiam...
sobreviver...
só queriam sobreviver.
E na subida,
bala perdida
o encontrou;
ele parou,
olhou em volta...
que tarde torta!
Caiu no chão.
Bala perdida
ceifou-lhe a vida,
sangue espalhado,
sonho encerrado...
vestibular...
já era o vestibular.
Saiu mais cedo
para morrer...
o que fazer?
como escapar?
estava escrito?
foi o acaso?
foi o destino?
incoerência,
incompetência de
governar,
o descontrole,
cada um por si
e vamos ver o que será.
Fim de uma vida,
bala perdida,
43
cobrem o corpo,
mais um aborto,
sonho acabou,
ele se foi,
ficou tristeza
e a certeza
da incompetência,
da incoerência de
governar.
Vamos fazer,
acontecer,
mandar prender,
endurecer,
investigar,
mas tenha dó,
foi um menor quem o
matou.
Os seus amigos,
sua família,
o seu filhinho
vão entender:
não vão prender,
é um menor,
um coitadinho,
revoltadinho,
com problemas sociais.
Então não prende,
vai ficar solto,
outros abortos vai
promover
e vai crescer,
vai ser maior,
mas tenha dó...
impunidade...
impunidade...
era menor o que matou,
era maior o que
morreu...
sabe o que deu?
deu nada não,
44
era menor,
matou um só,
vai matar mais,
destruir lar,
vestibular já não há
mais...
sonho acabou,
foi abortado,
o assassino foi
liberado,
era menor,
vai matar mais....
impunidade....
impunidade....
45
URBANIDADE
Nas favelas,
na baixada,
gente tomando pancada,
tiros rolam lá e cá...
tá...tá... tá...tá...
vai cair para a esquerda,
vai cair para a direita,
vamos apostar....
tá...tá...tá...tá...tá...tá...tá...tá...
caiu... morreu....
banalidade....
menos um,
mais um nas estatísticas governamentais,
mais um lascado,
mais um ferrado,
esse se foi....
urbanidade.... urbanidade....
humanidade urbana,
urbanitária,
massa proletária,
útil pra votar.
Se já votou,
já me elegeu,
então valeu,
me deixa em paz,
vai lá, rapaz,
vai se virar,
já estou aqui,
vou ficar bem,
fica no trem,
eu vou voar.
Justiça... justiça....
46
desigualdade,
urbanidade,
cada um por si,
me deixa aqui,
vou me dar bem,
Saddan Husseim
já se calou...
imperialismo,
o justiceiro,
tomou o petróleo,
derramou sangue,
tem mais dinheiro.
Temos petróleo,
se água faltar,
a Amazônia vamos pegar.
Justiça.... justiça...
urbanidade,
nacionalidade imperialista,
é um artista,
quer dominar,
o mundo todo
submeter,
você vai ver,
vamo’ apostar,
tem relação,
está ligado,
tráfico de um lado
dono da lei
tenho dindin
não fico preso
é isso mesmo
eu mando aqui
eu faço a lei
dono do morro
eu mato o povo
47
como o Jorgin,
Bush é amigo,
não há perigo,
somos iguais
e digo mais...
não vou dizer,
diga você,
vão nos vender,
nos entregar,
colonizar,
tudo de novo,
nós somos povo,
vamos mudar.
Mudança sem luta armada?
Não teria a Índia sido exceção?
Sei não.
Somos nação colonial,
neoliberal,
colonizada,
recolonizada
e em recolonização;
nos desarmaram,
estamos na mão,
somos da paz,
não somos do mal,
temos um hino nacional
que já não
entendemos...
o que fazer?
Dizer amém,
se entregar,
cantar um funk,
se alienar,
viver feliz.
48
DIREITOS
HUMANOS?
Crimes hediondos
sem punição,
crimes que abalaram a nação;
as vítimas foram culpadas,
os criminosos têm problemas sociais,
ou têm dinheiro,
ou influência,
a incompetência de legislar.
O índio queimado,
o assassino do cinema,
os namorados do acampamento,
o calouro de medicina...
chocaram,
revoltaram...
onde estão os criminosos?
Estão bem,
inocentados,
formados,
vidas normais,
todos têm problemas sociais...
Balela!
E a Daniela?
Tão jovem quando foi,
e o criminoso,
hoje, religioso,
inocentado,
eu não aguento mais.
Direitos humanos,
tem comissão,
esquecem a vítima
e defendem o ladrão,
o assassino,
o estuprador,
49
muito caô,
são os problemas sociais.
Não há justiça,
o tribunal,
o bacanal que a justiça faz,
os criminosos são sempre vítimas
de problemas sociais.
Corta uma árvore
e fica preso,
mata um humano
e fica solto,
o jeito louco de legislar...
o índio,
as vítimas do cinema,
os namorados,
o calouro,
a Daniela...
tadinhos dos criminosos,
precisam de nossa ajuda,
de liberdade para matarem mais,
todos vítimas de problemas sociais.
50
DESESPERO
Às quatro da manhã
já estão de pé
e pegam ônibus,
van,
trem,
um macaense quando tem,
outros vão de bicicleta
para o trabalho
e lutam
e batalham
e enriquecem o patrão
e garantem a sobrevivência da
família.
Chegam em casa
e não há clima
para um beijo na boca,
só um olhar,
nem sempre de amor,
o feijão acabou,
não há café,
o arroz está no fim,
o mês na metade
e o salário acabou.
Dia seguinte,
tudo de novo,
é o nosso povo
que vive assim
com um salário indecente;
os filhos pedem,
não há dinheiro,
não há mesada,
só cadeirada se insistir,
pouco carinho,
pouca conversa...
51
é hora da novela,
não há dinheiro,
não há beijinho,
pouco carinho,
quase nenhum.
Reclamação lá da escola,
o homem olha pro horizonte,
tudo nublado,
escurecido,
e é preciso trabalhar
para comer,
sobreviver,
e outro filho já vai nascer.
Hoje foi despedido,
está ferido,
desempregado,
e de novo vai ser pai.
O que fazer agora?
Contas a pagar...
Não há o que fazer,
só esperar
e procurar
e insistir...
morrer não vai,
e vai ser pai
mais uma vez.
Socorro!
Arrego!
Um novo emprego,
preciso sobreviver,
meus filhos têm que comer,
só quero um
dos tantos milhões prometidos,
só quero um,
para comer,
sobreviver,
só quero um.
52
FAVELA
Ana mora na favela.
Lá perto da casa dela,
no meio de uma viela,
tem uma casa amarela,
onde existe uma cadela,
lá perto da passarela.
Ana mora na favela.
Lá tem perigo de morte
e muito risco de vida;
as balas cortam a noite,
lá mora a bala perdida.
A filha de Ana
foi atingida
por uma bala
que lhe retirou a vida.
Ana mora na favela.
A boca é perto da casa dela.
Ana achava a noite bela,
mas a morte de sua filha
lhe deixou muita sequela
e Ana já nem abre a janela,
tem medo...
e está ficando velha.
Justiça é o que Ana deseja,
justiça não existe na favela,
também não tem fora dela.
Agora,
Ana já nem liga a tela,
tem medo de uma bala sair dela.
Ana mora na favela.
Hoje acordou bem cedo,
foi comprar pão
53
e mortadela,
queria que uma bala acertasse ela,
saiu e atravessou a pinguela;
do outro lado,
alguém gritou o nome dela
e Ana pensou ver sua Daniela;
olhou e era a Gabriela,
filha da vizinha tagarela,
amiga da filha dela...
e Ana
vai morrendo na favela.
54
GRÁVIDA
De repente viu-se
grávida.
Jovem... tantos planos
poucos...
Um descuido... pintou
o clima...
Uma
irresponsabilidade?
Engravidou.
E agora?
Mudança de planos:
casar.
Só pelo filho?
Por amor?
Por pressão?
Tudo mudou.
Mãe.
E nem teve tempo
direito para ser filha.
Que filha da mãe!
Mãe... isso pesa:
O corpo muda,
A mentalidade muda,
Mudam as emoções.
Amamentar, fazer
dormir, adivinhar...
Tão pouco tempo de
prazer
Por tantas
consequências.
Uma barriga, um filho,
uma responsabilidade.
Educar... quando nem
mesmo
completou seu período
de educação;
amamentar... quando
nem mesmo
deixou de ser criança.
A televisão?
A sociedade?
Os amigos?
Ela mesma?
Os dois?
“Prenda sua cabrita,
meu bode está solto.”
55
O menino não
engravida.
Sua filha é que se
ofereceu.
A vizinhança brinda:
assunto para nove
meses.
A filha de dona
fulana, heim?
Quem diria?
Irresponsável!
Oferecida!
É bem filha de quem é.
O menino inocentado...
foi vítima.
Sobre ele ninguém
fala... é macho,
ela é que é
sem-vergonha,
vai com qualquer um...
Mas só foi com o
namorado!
E a criança?
Mais um filho de duas
crianças.
O mundo está cheio,
as barrigas estão
cheias
de crianças
indesejadas,
e é sempre assim:
de repente.
56
QUE GERAÇÃO!
Geração de debilóides,
idiotas,
imbecis,
alienados,
sem poder de concentração
e que não pensa...
a mídia,
a televisão,
o funk,
agentes alienantes
de uma geração
que não sabe pensar,
que não quer pensar,
que não sabe interpretar
ou entender;
não tem bom papo,
não sabe conversar,
nem conquistar
a menininha...
que geração é essa?
abestalhada,
alienada,
que não tem papo
para a garota,
e puxa pelos cabelos
e força beijo na boca,
que coisa louca
de uma geração tecnológica
de retardados,
alienados,
pitibus e pitiboys,
a mesma coisa...
que geração é essa
57
que estressa,
que se destrói?
que não conversa,
não interpreta,
que se corrói?
Têm músculos grandes
e cérebros em desuso,
pitibus e pitiboys,
fatores alienantes,
a geração da democracia,
os nascidos pós-ditadura,
os usuários de games violentos,
sem papo,
sem conversa,
sem postura,
sem objetivos,
sem uma causa;
que não pensa
porque pensa
que pensar dói,
que se destrói,
que sai em bandos,
que atropela,
que não conversa,
que faz sequela,
que tudo resolve no grito,
na bala,
na covardia,
na influência social do papai...
Que geração é essa,
de alienados,
de mal nascidos
bem nascidos
e deformados...?
Que geração!
E o futuro?
Escuro.
Tem exceção...
Ainda bem...
58
NÃO À GUERRA
Guerra
não,
guerra
mata,
tortura,
fere,
marca para
sempre,
separa
pessoas,
viola
sentimentos,
produz
órfãos,
viúvas;
guerra é
inútil,
é besta,
egoísta,
mesquinha.
Guerra é
intolerância,
incompetência
de dialogar,
vontade de
matar
e de
exibir poder.
Guerra
não,
queremos
paz,
compreensão,
diálogo.
Queremos
sonhar
com um
mundo
melhor
para nossos filhos;
queremos
ser humanos,
apenas
isso...
humanos.
59
DESCOBERTA FATAL
A cidadezinha vivia tranquila
Até que um dia
Alguém achou um aparelho.
Era uma caixinha
Bonitinha
Na frente, uma telinha,
E a vida da cidadezinha mudou.
Apertaram um botão
E viram o mundo
E ouviram
E se divertiram.
Toda a cidadezinha parou
Para ver o tal aparelho.
Seria de outro mundo ou não?
Da terra ou de outra dimensão?
À noite, não havia mais conversa,
Todos iam à praça
Ver a telinha colorida
Daquele estranho aparelho.
Alguém teve a idéia de reproduzir
A caixinha
E várias delas foram feitas...
Cada habitante passou a ter a sua...
Cada casa com um aparelhinho na sala
E os diálogos noturnos acabaram
E as músicas que se faziam
Nas noites daquela cidadezinha
Perderam lugar para a música
Da telinha.
A dona de casa percebeu
Que lhe faltava muita coisa
Na cozinha
E começou a consumir.
60
A menina pacata e inocente
Da cidadezinha
Percebeu que era bobinha;
Esperta era a da telinha
E passou a imitá-la.
Com o tempo, a pequena cidade
Perdeu sua identidade e tornou-se sem “valor”.
Inverteram-se os valores,
Acostumou-se aos horrores
Até que alguém concluiu:
“a cidade está dominada”
E a telinha acordada
Impondo seus desvalores,
Horrores de uma civilização.
Um dia, a cidadezinha ficou sem energia
E na escuridão
Percebeu que a solução
Era livrar-se da telinha.
Tarde de mais.
No escuro e acordada,
A cidadezinha percebeu-se dominada...
E agora.... o que fazer?
61
DIREITO
AO DIREITO
Perante a lei todos somos iguais
E mais
Livres para pensar
Mas pensar é perigoso...
Eu corro em meu pensamento
Não sento para descansar.
“É livre a manifestação do
pensamento,
Direito de resposta...”
Que bosta
Então deixa eu falar
Me avise
Pensamento é livre
E livre a expressão
Censura não
Inquisição jamais
E mais
“É livre a prática religiosa”
Para todas as crenças
Extensas possibilidades
O estado é laico
Todos cabemos nele
Intolerância não
Fanatismo
alienação
Abismo
Segregação
Manipulação financeira
Besteira
Cada um sabe o que faz.
Será?
Sei lá.
Sei não.
“É livre a expressão intelectual,
62
Artística ou científica
Independente de censura ou
licença.”
Imprensa é livre ou não?
E eu, cidadão,
Posso ou não posso falar?
Sei lá.
Pode agredir.
E aí?
E eu com isso?
Liberdade já.
Tortura pedagógica não.
Solução: “viva e deixe viver”.
Conscientização,
Alienar jamais
E mais
Cada um tem sua cabeça
Esqueça meu jeito de pensar
Não aceite
Respeite
Tenho direitos a desfrutar.
“Ninguém perde o direito
Por convicção religiosa,
Política ou filosófica.”
Será que não?
Repressão
Você tem um direito: concordar.
Que ânsia!
Democracia da concordância:
Aceite – fique;
Questione – caia fora.
É assim.
63
SOMOS DEMAIS!
Intolerância,
radicalismo,
arbitrariedade,
tam-tam,
o talibã.
Será que não há um talibã
dentro de nós?
Não foram talibãs nossos avós?
E não somos nós?
Cultura machista, cruel, atroz...
Destino?
Sina?
Onde estão nossas meninas?
Têm igualdade?
Têm voz?
Os bons somos apenas nós:
não somos radicais,
nem tantans;
assim, somente os talibãs;
somos normais,
bonzinhos,
ocidentais
e sabe que mais?
Somos demais!
Democráticos,
liberais,
super legais.
Inimigos da humanidade,
loucos e tantans,
só os talibãs,
nosso governo não...
temos igualdade de direitos,
saúde e educação,
somos legais,
super humanos,
americanos...
somos demais.
64
UMA
HISTÓRIA DE EVOLUÇÃO
Da
fumaça à Internet,
quantas
formas de comunicação:
os
tambores...
os
horrores de uma civilização:
colonização,
invasão.
Línguas se
sobrepõem,
culturas
invasoras,
guerras pela paz...
da espingarda ao antraz...
evolução da humanidade...
grande capacidade de auto-destruição;
encara-se tudo,
tem-se medo de avião...
Eh!
Mundão!
Avanços
aqui na terra,
festa de
arromba:
queremos
guerra... temos bomba.
O
século da comunicação,
diálogo
na terra:
argumentação
para justificar a guerra.
Tem-se
amigo na Alemanha,
mas
não se conhece o vizinho,
milagres
da comunicação:
Internet,
o
breguete do século
da
globalização,
da
frieza,
da
distância,
estância milenar;
o ser da beleza,
realeza do planeta,
os donos da mutreta,
os geradores da corrupção.
Comunicar-se,
65
necessidade humana
e humanitária,
ora para o bem,
ora para o mal,
através dela:
cria-se vacina,
cria-se guerra,
mata-se,
salvam-se vidas...
o homem domina,
o centro,
o ser,
o dono...
nós,
o caos.
66
UM
PERFIL HUMANO
Depressão,
Melancolia,
Transtornos,
Pânico,
Inveja,
Ciúmes,
Decepções...
Tudo mexe com nossas emoções,
Nos abala.
A maior parte dos nossos problemas
Está em nós mesmos,
E também em nós mesmos
Estão as soluções.
Podemos nos adoecer e nos curar,
Podemos ver o que não existe
E ignorar o que é real;
Podemos ser inocentes,
Culpados,
Podemos ser do bem ou do mal.
Somos gente,
Humanos,
Problemáticos,
Resolvidos,
Felizes ou não.
Depende basicamente de nós.
67
MONOPÓLIO
DA FÉ
Todo poder lhe pertencia
Até que um dia
O homem resolveu ousar,
E com essa ousadia
Pôs em dúvida seu poder.
Ela não admitiu.
Torturou,
Excomungou,
Matou,
Feriu...
Tudo em nome de uma fé distorcida,
De uma visão distorcida de Deus.
Estava desesperada
Com a possibilidade de perda do poder,
Isso não podia ter acontecido:
O homem ousou questionar.
E tudo se modificou,
Quebrou-se o monopólio da fé.
68
PODER
E PECADO
“Todo poder é pecado”,
Todo domínio sobre o outro é arbitrário.
Toda forma de controle
Pressupõe poder
E sempre que um homem detém o poder,
Tende a sentir-se infalível,
Justo.
O poder é a pior das máscaras,
A persona mais cruel.
O mascarado pelo poder
Deseja ser visto como superior.
O outro é inferior.
Como exercer poder sobre o outro
Sem pecar,
Sem sentir-se um pouco dono desse outro,
Do seu destino?
Todo poder é pecado.
69
PERSONAS
PRESENTES
Num ambiente formal,
Ninguém é autêntico,
Original.
Todos portam máscaras,
Algumas são lindas.
A formalidade do ambiente exige isso.
As máscaras caem
Na informalidade da brincadeira,
No espaço familiar,
Entre os mais próximos,
No trânsito,
Nos intervalos de aulas,
Nas salas de professores,
Nos encontros de médicos,
Padres,
Pastores,
Nos encontros informais.
As personas exigem respeito
Quando seus portadores
Nem sempre respeitam;
As personas tiveram passados perfeitos;
Seus portadores nem sempre,
Quase nunca.
As personas são santas,
Seus portadores profanos;
As personas são justas,
Seus portadores hipócritas.
Nem sempre personas e portadores
(máscaras e mascarados)
São compatíveis.
Quase nunca.
70
SERES
HUMANOS HUMANOS DEMAIS
Pragmático
Dogmático
Cético
Emotivo
Flexível
Crédulo
Nós
Humanos
Humanos demais
Para entendermos Deus.
Físicos
Espirituais
Psicológicos
Formamos um todo
Um kit.
Indivisíveis
Dialéticos
Espiritualizados
Ou céticos
Humanos demais
Egoístas
Solidários
Diferentes
Iguais
Pensantes
Alienados
Seres humanos
Humanos demais
Gente
Eu
Você
Nós
O caos
71
COMO
DEUS ME VÊ
Quando Deus olha dentro de mim,
O que será que Ele vê?
Talvez Ele não veja a mesma coisa
Que vejo quando me ponho
Diante do espelho,
Talvez Ele veja algo que não está à mostra,
Talvez veja um cara normal,
Talvez um monstro,
Um egoísta,
Um preconceituoso.
Quando ele olha pra mim,
Vê consciente e inconsciente.
Tenho medo do meu inconsciente,
É assustador,
Sem limites,
Sem princípios,
Sem regras.
Quando Ele olha pra dentro de mim,
Vê uma natureza insubmissa
Que preciso
controlar.
Somente uma coisa me tranquiliza:
Independente do que veja,
O faz com misericórdia,
Com um amor sem tamanho,
Com um ar de
“mesmo assim, eu te amo.”
Ele não me vê como o outro me vê,
Uso máscaras,
Personas,
E com elas defino como quero ser visto
Pelo outro,
Mas Deus vê além das máscaras,
Além do que mostro
72
E deve achar ridículo, patético,
Quando escolho uma máscara
Tão distanciada de minha realidade.
Não passamos de personalidades mascaradas,
Capazes de proferir belos discursos
E de vivermos completamente diferente deles,
Capazes de dizer “te amo”
Enquanto pensamos qualquer coisa diferente disso,
Capazes de declarar a Bíblia nossa regra de fé
E de não aplicarmos
seus ensinamentos,
Capazes de fazer a “obra de Deus”
Quando estamos, na verdade,
Fazendo a nossa obra,
Buscando a nossa promoção,
Pensando numa possível candidatura
A um cargo político.
A diabólica “santa inquisição”
Pertence ao passado,
Mas continuamos matando o outro,
Se não fisicamente,
Espiritualmente;
Se já não o confinamos para sempre
Em calabouços,
O segregamos,
O afastamos,
O comprometemos
Emocionalmente.
E descaradamente,
Fazemos tudo isso em nome de Deus.
O outro é diferente,
O diferente é estranho,
O estranho me perturba,
Eu quero ficar bem com Deus,
Para isso, preciso distanciar-me do outro,
Do não eu,
73
Do não cópia,
Do não amém,
Então vou pedir a Deus
Que afaste de mim o outro
Para que eu volte a ficar bem.
O outro pode ser o caos
E como não sei lidar com o caos
Que Deus o leve para longe.
Não quero que Deus veja isso em mim.
Quero que veja um pecador,
Um usuário de máscaras,
Um ser humano cheio de falhas
E de boas intenções,
Um caos ambulante,
Um ser em construção,
Capaz de errar
E de reconhecer seus erros,
Capaz de magoar
E de pedir desculpas,
Um ser incompleto,
Porém de cara limpa.
74
TOLERÂNCIA TEOLÓGICA
Sonho com uma teologia que una mais
e divida menos;
com uma teologia que não me faça
olhar para meu irmão católico,
para o meu irmão ortodoxo,
e vê-los como
não-cristãos;
com uma teologia que me permita
olhar para o meu semelhante
praticante de cultos não-cristãos
e vê-lo como alguém importante para Deus,
como alguém por quem Cristo também morreu,
como alguém tão especial quanto eu, se sou especial.
Sonho com uma teologia não-segregacionista,
com uma teologia menos denominacional e mais cristã.
Sonho com uma teologia cristã que me permita
ver em Buda, Gandhi,
Madre Tereza, João Paulo II, Luther King,
um objetivo comum, ainda que por caminhos diferentes;
Com uma teologia que me faça pensar,
questionar, entrar em crise e sair dela (ou não),
e que me leve a entender que acima da própria teologia
está o outro, o ser humano,
a criação mais fantástica de Deus;
que embora praticante de outro culto,
que embora diferente de mim,
que embora defensor de outros dogmas,
de outras doutrinas, de outra teologia,
continua meu semelhante,
alvo do amor de Cristo,
mais importante que qualquer teologia.
É essa teologia que aprendi,
É nela que acredito,
É esse Cristianismo que vivo.
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PARA ONDE CAMINHA A IGREJA?
Igrejas,
Projetos,
Comunidades,
Dogmas,
Doutrinas,
Tradições,
Costumes,
Pessoas.
O que representam as pessoas?
Prioridade?
Estatística?
Números apenas?
As pessoas têm fé,
Têm família,
Têm estômago.
As pessoas são vítimas de desigualdades.
E a igreja nisso tudo?
Amém?
Sermão, boa música e tudo bem?
Resolve tudo a oração?
Para onde caminha a igreja?
Em que direção vamos?
A igreja somos homens,
Mulheres,
Crianças,
A igreja é esperança.
Evangelho social,
Teologia da libertação,
Pode ser uma boa direção.
O estômago primeiro,
Depois o evangelho,
Ou nada fará sentido.
Que momento é esse do Cristianismo,
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Em que ignora-se o
socialista “pão e peixe para todos”
E valoriza-se o
capitalista
“farinha pouca, meu pirão primeiro”?
E os líderes,
O que fazem, de fato, pelo seu povo,
Pelas suas ovelhas,
Além de negociarem seus votos,
De fecharem acordos,
De se beneficiarem,
Alegando visão e audição apuradas,
Sobrenaturais até?
Estou farto.
Apesar de tudo isso,
Ainda existem líderes
Que a exemplo de Francisco de Assis,
Embora sem o extremo do voto de pobreza,
Entendem que suas necessidades,
E apenas elas,
Precisam ser atendidas,
E dispensam o luxo,
E esquecem de si próprios
E vivem pelo seu povo;
Aqueles, que a exemplo de Cristo,
Se dispõem a dar a vida
Por suas ovelhas;
Aqueles, que assim como Luther King
(um norte-americano do bem),
leva seu povo a entender
que as diferenças existem
e devem ser respeitadas
e que as desigualdades, essas sim,
precisam ser exterminadas,
e que pior que a maldade dos maus
é o silêncio dos bons;
líderes que entendem
77
que o mais importante
não é a denominação,
mas os princípios universais
de amor ao outro
estabelecidos por Cristo;
que todos fazemos parte de uma teia,
que todos somos gente,
e que, consequentemente, temos falhas.
Gosto de líderes povo,
De líderes gente,
Que embora austeros,
Não são autoritários,
Dos que diferenciam autoridade de autoritarismo,
Dos que dominam a si mesmos.
Gosto de Luther King,
Que embora chamado para o sacerdócio,
Não deixou de lado as lutas sociais do seu povo,
Ou, que embora lutador das causas sociais,
Não renunciou ao sacerdócio;
Gosto de João Paulo II,
Que embora conservador,
Conquistou uma geração de católicos e não-católicos;
Gosto de líderes que mudam,
Que são “metamorfoses ambulantes”,
Que reconhecem quando erram e se desculpam,
Que não negociam a fé,
Nem a sua, nem a dos outros;
Gosto de líderes que falham.
78
MISSÕES
Desafio?
Chamado?
Ordem?
Vocação?
Convocação?
O
que é missões?
Enquanto
pensamos,
corações
sedentos aguardam,
esperam,
anseiam
agonizam,
ressecam,
param
de bater.
E
nós, onde estamos?
Guardados
na segurança do templo....
Protegidos.
O
que temos feito?
Temos
entendido o chamado?
Temos
agido?
Ou,
simplesmente,
temos
nos omitido,
protegidos
na declaração
de
que pouco temos a oferecer
e
de que Deus enviará outros?
Os
campos são tão grandes!
O
Brasil é tão grande!
A
igreja é tão grande!
e
há tanto por fazer...
“Vamos
precisar de todo mundo,
um
mais um é sempre mais que dois.”
Missões é o coletivo
para
o coletivo,
o
coletivo para o individual,
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o
individual para o coletivo.
Fazer
missões é
“investir
vida na vida”,
é
ouvir um grito desesperado
e
atendê-lo,
é
dizer sim ao chamado
e
disponibilizar-se:
“Senhor,
estou aqui, envia-me!”
Missões
externas,
Missões
internas...
O
continente africano
e
a África que existe
em
nossa cidade,
a
região Nordeste do Brasil
e
o nordeste que existe em Tamoios...
Missões:
voluntários convocados,
voluntários
comprometidos...
Fazer
missões é renunciar
ao
conforto,
à
estabilidade,
à
confortável rotina,
à
normalidade;
é
abraçar a causa da evangelização
e,
se preciso, dar a vida por ela;
é
viver o hoje
com
a certeza do amanhã em Cristo,
é
dizer para um estranho:
“estou
aqui porque amo você”
e
chorar na solidão da madrugada
intercedendo
por ele.
Fazer
missões é extra-humano,
é
sobre-humano,
porém
humano,
porém
divino.
Missões
é, acima de tudo,
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um
caso de amor....
Mas
como fazer missões
Sem
invadir a cultura do outro,
Sem
violar seu direito de liberdade religiosa?
“Ainda
que eu falasse
as
línguas dos homens
e
dos anjos,
e
não tivesse amor....”
nada de bom estaria fazendo,
de
fato,
pelo
outro.
PRETENSÃO
Eu tentei!
Só queria fazer um poema louco,
bem louco,
onde o poeta fosse o próprio poema
e o poema,
o próprio poeta,
que não seria poeta,
mas poesia;
onde o poema do poeta
fosse poesia poética
e que essa poesia
levasse o leitor a pensar!
Não sei se consegui!
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