COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAIS
COERÊNCIA,
COESÃO E CLAREZA
TEXTO 1
“Raimundo
foi a uma festa, numa boate badalada de Búzios, com uma linda mulher, que não
era sua namorada.
Temendo ser descoberto, olhava ao
seu redor o tempo todo.
Lá pelas tantas, faltou energia e
todo o bairro, inclusive a boate, ficou
às escuras. Todo mundo reclamou, menos Raimundo, que sentiu-se protegido pela
escuridão. Tudo estava um breu, ninguém sabia quem era quem.
De
repente, Raimundo ficou pálido, sua namorada acabara de entrar acompanhada de
duas amigas”.
O texto acima apresenta uma incoerência: se tudo era um breu e ninguém via ninguém, como
ele pode ter visto a namorada com as duas amigas, logo que entraram?
COERÊNCIA
TEXTUAL, portanto, é a relação harmoniosa
entre os pensamentos expostos; refere-se, portanto, ao conteúdo do texto.
Para que o texto seja coerente é preciso que haja uma unidade, que todas as partes se
encaixem.
Para que o texto acima pudesse ser considerado coerente,
os personagens poderiam se encontrar na saída ou a energia poderia ter voltado.
O que não pode é, no breu da boate, onde ninguém via ninguém, Raimundo ver a
namorada logo que ela entrou.
Imagina um grupo de pessoas montando um painel com o tema
HÁBITOS URBANOS e uma dessas pessoas sugerindo a fotografia de um garoto
andando à cavalo numa fazenda. Teríamos uma incoerêcia.
No caso da dissertação,
os argumentos apresentados para justificar sua tese precisam ser coerentes. Do
contrário, toda a tese será comprometida.
Exemplo
“As
quotas universitárias para negros é uma forma de resgate histórico da
valorização de um grupo que foi proibido de frequentar escolas brasileiras num
dado momento da história. Assim, podemos dizer que a quota é discriminatória.”
Aqui,
a conclusão está equivocada, levando-se em conta a ideia inicial. Temos,
portanto, um caso de incoerência.
COESÃO
Ligação entre as
ideias, as frases, o que é fundamental para o bom entendimento do mesmo.
Essa ligação precisa apresentar um sentido lógico,
coerente; para isso é preciso observar as relações semânticas (de significado) existentes
entre as palavras.
Para redigirmos um texto de boa qualidade, precisamos
conhecer os elementos de coesão textual, pois um texto coeso, com as ideias bem
arrumadas, nos permite compreendê-lo de modo satisfatório.
Para dar coesão ao nosso texto, podemos utilizar diversas palavras que funcionam como
conectivos (elementos de ligação): conjunções,
preposições, pronomes relativos e advérbios.
Ex.:
“A liberação de gás carbônico na
atmosfera começou com a eclosão da
Revolução Industrial, há 200 anos, quando
as máquinas a vapor começaram a queimar
carvão como fonte de energia. Depois,
os motores a explosão, como o dos automóveis, foram alimentados com subprodutos
do petróleo. Esses
combustíveis resultam de grandes porções de florestas do passado, soterrados
pelo movimento incessante das placas tectônicas, que formam a superfície da Terra. Assim representam enormes estoques de gás carbônico. O corte
e queima de florestas também
vêm aumentando a liberação de gás carbônico
atmosférico.” (O Estado de São Paulo: 16/06/99)
CONJUNÇÕES
– estabelecem relações entre as orações ou entre palavras de uma mesma
categoria gramatical.
a) CAUSA – para
criar esta relação, podemos recorrer às conjunções (e locuções conjuntivas)
subordinativas adverbiais causais: porque,
como, visto que, uma vez que, já que; por causa de, devido a, em virtude de.
Essas conjunções e expressões vão indicar uma causa e uma conseqüência ao
juntar os dois pensamentos.
Ex.: “Alguns projetos essenciais não são
votados porque temos
políticos omissos em relação à saúde da população.”
Causa:
Por que os projetos não são votados? Porque temos políticos omissos em relação
à saúde da população.
Consequência:
Projetos importantes para a
população não são votados e as pessoas são prejudicadas.
b) CONSEQUÊNCIA
– Para apresentar um fato como consequência de outro, o mais prático é usarmos
conjunções subordinativas adverbiais consecutivas: que(depois de tão, tanto, tal), de sorte que, de modo que, de maneira
que, de forma que. Ouras expressões indicadoras de conseqüência: por isso,
assim, como resultado, por consequência.
c) COMPARAÇÕES
– Em redações, é muito comum confrontarmos assuntos, dados, fatos, ideias,
comparando peculiaridades entre eles. Para tal procedimento, utilizamos,
normalmente, conjunções subordinativas adverbiais comparativas: assim como, de modo semelhante, igualmente,
do mesmo modo, por sua vez, tal qual, seja... seja, diferentemente.
Ex.:
“O Brasil, de modo semelhante aos
demais países do Terceiro Mundo, mantém uma política educacional pobre em todos
os níveis, se compararmos aos países europeus.”
CLAREZA
Se não usarmos adequadamente os elementos de ligação, o
texto não terá coesão. Consequentemente, também não teremos coerência e aí já
era. O texto estará completamente comprometido.
Outros fatores que podem comprometer a clareza do texto:
·
ambiguidade;
·
uso de períodos longos;
·
uso de palavras ou expressões de
difícil entendimento.
EX.:
O Colocador de Pronomes, conto de Monteiro Lobato. O
personagem principal usa um vocabulário artificialmente sofisticado, com
palavras incompreensíveis para a maioria
das pessoas.
No fragmento a seguir, o
personagem central dirige-se ao congresso solicitando a criação de uma lei
contra os que erram no uso do idioma:
“-
Leis, Senhores, leis de Dracão, que digues sejam, e fossados, e alcáceres de
granito propostos à defensão do idioma. Mister sendo, a força restaure, que
mais o baraço merece quem conspurca o sacro patrimônio da sã verniculidade, que
quem ao semelhante a vida tira. Vede, Senhores, os pronomes, em que lazeira
jazem...”
Como
observamos, rola aí uma linguagem exagerada, com muitas palavras raras ou em
desuso e vários termos em ordem inversa. Assim, o personagem acaba caindo no
ridículo e todos riem dele.
AMBIGUIDADE
Ocorre quando o leitor
fica em dúvida diante de mais de uma possibilidade de entendimento do
que está escrito. Ocorre ambiguidade, normalmente, por má colocação das
palavras e por mau uso de pronomes possessivos.
Ex.: Ama o
pai o menino.
Nesse
caso, quem ama quem, afinal de contas? Se a frase começar pelo sujeito, na
ordem direta, o problema se resolve: O pai ama o menino. / O menino ama o pai.
Ex.:
José viu o ladrão na sua casa.
Na
casa de José ou na casa do ladrão?
Podemos melhorar a frase, eliminando essa ambiguidade:
José
estava em casa, onde viu o ladrão.
O
ladrão estava em casa, quando José o encontrou.
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