IDEOLOGIA, DISCURSO E TESE


Todas as classes sociais deixam as marcas de sua visão de mundo, dos seus valores e crenças, ou seja, de sua IDEOLOGIA, no uso que fazem da linguagem.
De acordo com o dicionário HOUAISS, IDEOLOGIA é um sistema de ideias (crenças, tradições, princípios e mitos) interdependentes, sustentadas por um grupo social de qualquer natureza ou dimensão, a
os quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos  ou econômicos.
Como seres humanos, recorremos à linguagem, principalmente ao idioma, para expressar nossos sentimentos, opiniões, desejos. É por meio dela que interpretamos a realidade que nos cerca e  transmitimos através do nosso DISCURSO (fala/escrita). Essa interpretação, porém, não é totalmente livre. Ela é construída historicamente a partir de uma série de FILTROS IDEOLÓGICOS que todos nós temos, mesmo sem nos darmos conta de sua existência.
Esses filtros constituem uma formação ideológica, ou seja, um conjunto de valores e crenças a partir dos quais julgamos a realidade na qual estamos inseridos e tomamos partido, abraçando e defendendo ideias (TESES) a partir de ARGUMENTOS (nossos porquês).
  Ao longo da história da Música Popular Brasileira, por exemplo, muitos compositores procuraram definir, em suas letras, um perfil do que consideravam ser a  "mulher ideal", com base no contexto em que viveram (época, sociedade, cultura) e numa visão machista ou não de cada um, o que reflete suas respectivas ideologias.

AI QUE SAUDADES DE AMÉLIA  - 1942
(Ataulfo Alves e Mário Lago)

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz

Você só pensa em luxo  e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai, meu Deus, que saudades de Amélia
Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, o que se há de fazer!

Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade.



EMÍLIA - 1941
(Wilson Batista e Haroldo Lobo)

Eu quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar
Que, de manhã cedo, me acorde na hora de trabalhar
Só existe uma e sem ela eu não vivo em paz
Emília, Emília, Emília, eu não posso mais.

Ninguém sabe igual a ela
Preparar o meu café
Não desfazendo das outras
Emília é mulher
Papai do céu é quem sabe
A falta que ela me faz
Emília, Emília, Emília, eu não posso mais...


DANDARA - 2007
(Ivan Lins e Francisco Bosco)

Ela tem nome de mulher guerreira
E se veste de um jeito que só ela
Ela vive entre o aqui e o alheio
As meninas não gostam muito dela

Ela tem um tribal no tornozelo
E na nuca adormece uma serpente
O que faz ela ser quase um segredo
É o ser ela assim, tão transparente

Ela é livre e ser livre a faz brilhar
Ela é filha da terra, céu e mar
Dandara

Ela faz mechas claras nos cabelos
E caminha na areia pelo raso
Eu procuro saber os seus roteiros
Pra fingir que a encontro por acaso

Ela fala num celular vermelho
Com amigos e com seu namorado
Ela tem perto dela o mundo inteiro
E à volta outro mundo, admirado

Ela é livre e ser livre a faz brilhar
Ela é filha da terra, céu e mar
Dandara

NOTA: Observem, nas duas canções dos anos 40, e na canção de 2007 como é diferente a abordagem sobre a mulher. Reflita sobre isso.


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