DISCURSO, TEXTO, IDEOLOGIA, PATRIARCADO E FEMINISMO

 

            Todas as classes sociais deixam as marcas de sua visão de mundo, dos seus valores e crenças, ou seja, de sua IDEOLOGIA, no uso que fazem da linguagem.

            De acordo com o dicionário HOUAISS, IDEOLOGIA é um sistema de ideias (crenças, tradições, princípios e mitos) interdependentes, sustentadas por um grupo social de qualquer natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos  ou econômicos.

            Como seres humanos, recorremos à linguagem para expressar nossos sentimentos, opiniões, desejos. É por meio dela que interpretamos a realidade que nos cerca. Essa interpretação, porém, não é totalmente livre. Ela é construída historicamente a partir de uma série de filtros ideológicos que todos nós temos, mesmo sem nos darmos conta de sua existência.

            Esses filtros constituem uma formação ideológica, ou seja, um conjunto de valores e crenças a partir dos quais julgamos a realidade na qual estamos inseridos.

Nem toda ideologia é positiva para a sociedade. O PATRIARCADO / MACHISMO é uma ideologia muito negativa. “A ideologia patriarcal está presente ao longo do processo de formação do Estado brasileiro e é a raiz da cultura de violência contra a mulher. No período colonial, o homem, considerado chefe da família, tinha posse integral sobre sua companheira, subjugando-a, seja na esfera social ou pessoal.”

MACHISMO E FEMINISMO não são antônimos, um NÃO é o contrário do outro. Na ideologia MACHISTA, homens se impõem pela força para manterem o seu status, as suas vontades. Se julgar necessário, ele mata por isso, para isso. O PATRIARCADO se sustenta, principalmente, pelo DISCURSO RELIGIOSO, partindo de uma narrativa supostamente sagrada de que o Deus criador teria feito o homem para comandar e a mulher para obedecer. O FEMINISMO luta pelo espaço da mulher nessa sociedade patriarcal; pelo direito de uma mulher permanecer viva quando resolve terminar um relacionamento que já não lhe interessa; pelo direito ao mesmo salário de um homem com a mesma formação...

            Ao longo da história da Música Popular Brasileira, muitos compositores procuraram definir, em suas letras, um perfil de “mulher ideal”.  Nas duas primeiras canções, a mulher é muito mais um utilitário que um amor. Ela precisa ser obediente, pontual, sem vontades. Nas duas últimas, a mulher é liberdade, é ela mesma, cada uma com seus gostos e vontades.  Vejamos.

 

AI QUE SAUDADES DE AMÉLIA

(Ataulfo Alves e Mário Lago)

 

Nunca vi fazer tanta exigência

Nem fazer o que você me faz

Você não sabe o que é consciência

Nem vê que eu sou um pobre rapaz

 

Você só pensa em luxo  e riqueza

Tudo o que você vê, você quer

Ai, meu Deus, que saudades de Amélia

Aquilo sim é que era mulher

 

Às vezes passava fome ao meu lado

E achava bonito não ter o que comer

E quando me via contrariado

Dizia: “Meu filho, o que se há de fazer!”

 

Amélia não tinha a menor vaidade

Amélia é que era mulher de verdade.

 


EMÍLIA (Wilson Batista e Haroldo Lobo)

 

Eu quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar

Que, de manhã cedo, me acorde na hora de trabalhar

Só existe uma e sem ela eu não vivo em paz

Emília, Emília, Emília, eu não posso mais.

 

Ninguém sabe igual a ela

Preparar o meu café

Não desfazendo das outras

Emília é mulher

Papai do céu é quem sabe

A falta que ela me faz

Emília, Emília, Emília, eu não posso mais...

 

AMÉLIA DESCONSTRUÍDA (Pitty)

 

Já é tarde, tudo está certo

Cada coisa posta em seu lugar

Filho dorme ela arruma o uniforme

Tudo pronto pra quando despertar

O ensejo a fez tão prendada

Ela foi educada pra cuidar e servir

De costume esquecia-se dela

Sempre a última a sair

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar

Uooh

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa

Assume o jogo

Faz questão de se cuidar

Uooh

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o outro

Hoje ela é o também

A despeito de tanto mestrado

Ganha menos que o namorado

E não entende o porquê

Tem talento de equilibrista

Ela é muita se você quer saber

Hoje aos 30 é melhor que aos 18

Nem Balzac poderia prever

Depois do lar, do trabalho e dos filhos

Ainda vai pra night ferver

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar

Uooh

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa

Assume o jogo

Faz questão de se cuidar

Uooh

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o outro

Hoje ela é o também

Uuh

Disfarça e segue em frente

Todo dia até cansar

Uooh

E eis que de repente ela resolve então mudar

Vira a mesa

Assume o jogo

Faz questão de se cuidar

Uooh

Nem serva, nem objeto

Já não quer ser o outro

Hoje ela é o também

 

DANDARA

(Ivan Lins e Francisco Bosco)

 

Ela tem nome de mulher guerreira

E se veste de um jeito que só ela

Ela vive entre o aqui e o alheio

As meninas não gostam muito dela

 

Ela tem um tribal no tornozelo

E na nuca adormece uma serpente

O que faz ela ser quase um segredo

É o ser ela assim, tão transparente

 

Ela é livre e ser livre a faz brilhar

Ela é filha da terra, céu e mar

Dandara

 

Ela faz mechas claras nos cabelos

E caminha na areia pelo raso

Eu procuro saber os seus roteiros

Pra fingir que a encontro por acaso

 

Ela fala num celular vermelho

Com amigos e com seu namorado

Ela tem perto dela o mundo inteiro

E à volta outro mundo, admirado

 

Ela é livre e ser livre a faz brilhar

Ela é filha da terra, céu e mar

Dandara

 

 

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